Moça

Moça bonita me tira
Dessa escuridão
Me ajuda a viver
A vida com mais paixão
Quando eu tiver na cama
Me beija, menina moça
Que é pra eu pegar
Nas armas pela nação
E se eu cair na poça
De sangue da bala injusta
Leve meu nome no seu peito
Porque os bravos serão
Apagados no leito.

Esperança

Agradeço a cada riso
Estampado no rosto.
E o amor de verdade
Que não existe desgosto.
O bom dia sincero
Do ônibus lotado.
A madrugada fria
De quem vive acordado.
A mão dura da tia
Da limpeza diária.
E o calo no dedo
Do seu filho educado.
A saudade gostosa
Do momento vivido.
E a esperança porosa
Do que ainda será vencido.

 

De quem é a culpa?

Um dos maiores desafios desse pleito foi a de culpar um ou outro partido por conta da consolidação do fascismo expressado pelo Bolsonaro. Desde o começo do pleito, eleitores petistas acreditavam que Lula seria a salvaguarda da nação, propondo um plano de governo alinhado mais à esquerda do que o de outros pleitos, sem contar que, segundo as pesquisas, ele até poderia ser eleito no primeiro turno.

Nosso judiciário, até começar a investigar outros partidos, colocou todas as forças para criminalizar o PT ao invés de punir, com base nas provas dos processos, as pessoas. Sem contar as horas dedicadas pela mídia a uma parcialidade para criar um antipetismo histórico. Vale lembrar que no meio dessa imparcialidade, há também a criminalização de empresas, ao invés dos seus culpados. Quantas vezes vimos que a Odebrecht ou a Camargo Correia é corrupta e não somente seus corruptos? Quantas vezes a Petrobrás, uma das maiores riquezas nacionais, por ter pessoas investigadas, se tornou midiaticamente corrupta? Quantas pessoas foram demitidas junto com as investigações de diretores de empresas pura e simplesmente porque houve desvalorização por conta da especulação do capital? Pune-se o todo e não a parte.

Que a prisão do Lula é questionável, isso não temos dúvida, mas apostar numa candidatura que coloca uma nação em cheque, é cometer o mesmo erro que se comete ao criminalizar o todo quando um é corrupto.

Ao mesmo tempo, tivemos candidaturas de peso contra o fascismo crescente do Bolsonaro. E essas não são candidaturas historicamente alinhadas à esquerda, mas ao centro e, pasme, à direita. Vera Lúcia, com o nanico PSTU, combateu o PSL; Marina, com a Rede; Ciro Gomes, um dos maiores críticos à candidatura petista, combateu firme o fascismo; até o Alckmin, do antes grande e agora nanico PSDB, de direita, combateu o fascismo do Bolsonaro. Guilherme Boulos e todas e todos candidatas e candidatos do PSOL, com muita esperança, mais uma vez mostraram que a esquerda é bonita e pode trazer ainda muita coisa boa pro nosso povo. Sem contar os atos das mulheres contra o fascismo de Bolsonaro espalhados pelo Brasil e Mundo. Se o fascismo estava construído na figura de uma pessoa, muitos partidos e milhares de pessoas bateram de frente a esse obscurantismo.

De um lado temos o PT criticando a lava jato, a mídia e o judiciário por terem criado o fascismo. Do outro lado temos diversos partidos criticando o PT, seja nesse pleito ou historicamente, de criar o mesmo fascismo. Ainda há um terceiro lado que diz que a sociedade está dividida entre esquerda e direita. Eu gostaria de saber quando, qual pleito, qual momento da história do Brasil, nós não tivemos uma divisão social antagonista? Todos os pleitos após a redemocratização são marcados por uma cisão social. A dicotomia continua se analisarmos a ditadura, o período Vargas, a Velha República e o Brasil Império. Nossa história é marcada por exploração, desigualdade e divisão social.

Mas a culpa é de quem?

Vamos lá. Quantos eleitores autodeclarados bolsonaristas você tentou entender os reais motivos desse voto? Quantos houve uma dedicação etnográfica de entendimento desses eleitores partindo de nós? Quantos você convenceu a não votar no Bolsonaro? Ah, mas com fascismo não tem discussão? Como não, quando o fascista é a mesma pessoa que almoça com você no trabalho ou na reunião familiar?

Nós erramos e temos errado muito. O erro está na forma de falar, de convencer, de apresentar as propostas, de entender o eleitor, de entender seus medos. A esquerda não sabe conversar com o eleitor, a não ser que ele faça parte da sua bolha eleitoral. Me lembro de um dia, numa assembleia da faculdade, em que um aluno falava sobre a política de crédito do PT e em seguida uma senhora da faxina o corta: “Você fala isso porque não precisou comprar um tanquinho para lavar a roupa de 10 filhos”.

A culpa do fascismo é nossa por não conseguir combater uma corrente de whatsapp. Tá na hora de entender o eleitor pobre, negro e marginalizado que vota no Bolsonaro. Tá na hora de ter um discurso melhor, porque da forma que fazemos, o outro lado só cresce.