Convivência

Não tá fácil mais tirar

As costas do colchão

Esse estado de repensar

De ver as coisas de antes

Meu lado mais sombrio

É o que eu sinto hoje

Não consigo mais me dar

Mas você me desperta amor

Me traz pra você, no espelho

Arruma o cabelo

Me tem

Sou teu de novo

Me leva praquele caminho

Que era cheio de meio fio

Que equilibrava quando

Ia pra escola

Canta comigo a tua música

Te amo

9

Não deixou nada

A moça que eu tô amando
Pergunta como estamos e eu,
Tolo, fico despido, mostro tudo.
Ela rouba meus medos e
Não deixa nada no lugar.

Quando eu penso que tá tudo no lugar,
Ela se afasta como a
Brisa de uma sombra passageira
De uma nuvem.

Me vejo nos braços de outra mulher que
Me beija, elogia.
Me diz que me quer e me pega.
Me deixa jogado na cama, gozado.

Tem uma mensagem sua me querendo
Depois do pôr do sol, eu sei, a solidão bate.
Queremos o calor de novo.
Mas onde você esteve?

E o cigarro agora acaba,
Tomo um remédio pra dor de cabeça.
Minha cama me abraça.
To gozado.
E meu amor não esteve aqui.

Amor gostoso

Meu bem, estou te namorando
Mas não sei como te falar.
Sinto um calor falando de você
Já te conhecem tão bem por aí.

Quero te trazer pra perto.
Te mostrar as águas lá de longe
Onde eu tomei banho pra me curar.

Quero te ver na rua de novo.
Pra te abraçar e parar um segundo
E sentir teu cheiro gostoso.

E quando você for embora
Leva um pedaço de mim com você.
Que é pra eu saber que você volta.

E quando voltar, vem cá de novo,
Vamos rir de coisas bobas,
Pra eu ter coragem de te contar
Do meu namoro por você.

Amar é proibido

Tem um pouco de tristeza
Nos meus encontros com você
Uma esperança de que o tempo
Dure um pouco além
Do fim das suas costas quando
Minha mão te percorre

Quando o carnaval chegar
Preciso parar e te contar
Como é lindo seu rosto
Pintado com purpurina
Que o sol resolveu te dar

Não espera o inverno
Pra querer o carinho de novo
Meu amor te deixa correr
Pra você vir correndo
Quando amanhecer.

Cadê você

Cadê o amor que eu vi

De baixo do guarda chuva

No fim da tarde

Na minha rua.

Cadê o beijo que eu sentia

Que passava o dia

Sem perceber que era

Um sonho bom

Quando acordava só.

Cadê a pessoa do metrô

Do olho no olho no reflexo

Movimentado do vidro

E dos passos rápidos

Da porta se abrindo.

Cade você que sou eu

Fugindo de quem eu sou

Procurando algo por aí.

Moça

Moça bonita me tira
Dessa escuridão
Me ajuda a viver
A vida com mais paixão
Quando eu tiver na cama
Me beija, menina moça
Que é pra eu pegar
Nas armas pela nação
E se eu cair na poça
De sangue da bala injusta
Leve meu nome no seu peito
Porque os bravos serão
Apagados no leito.

Esperança

Agradeço a cada riso
Estampado no rosto.
E o amor de verdade
Que não existe desgosto.
O bom dia sincero
Do ônibus lotado.
A madrugada fria
De quem vive acordado.
A mão dura da tia
Da limpeza diária.
E o calo no dedo
Do seu filho educado.
A saudade gostosa
Do momento vivido.
E a esperança porosa
Do que ainda será vencido.

 

De quem é a culpa?

Um dos maiores desafios desse pleito foi a de culpar um ou outro partido por conta da consolidação do fascismo expressado pelo Bolsonaro. Desde o começo do pleito, eleitores petistas acreditavam que Lula seria a salvaguarda da nação, propondo um plano de governo alinhado mais à esquerda do que o de outros pleitos, sem contar que, segundo as pesquisas, ele até poderia ser eleito no primeiro turno.

Nosso judiciário, até começar a investigar outros partidos, colocou todas as forças para criminalizar o PT ao invés de punir, com base nas provas dos processos, as pessoas. Sem contar as horas dedicadas pela mídia a uma parcialidade para criar um antipetismo histórico. Vale lembrar que no meio dessa imparcialidade, há também a criminalização de empresas, ao invés dos seus culpados. Quantas vezes vimos que a Odebrecht ou a Camargo Correia é corrupta e não somente seus corruptos? Quantas vezes a Petrobrás, uma das maiores riquezas nacionais, por ter pessoas investigadas, se tornou midiaticamente corrupta? Quantas pessoas foram demitidas junto com as investigações de diretores de empresas pura e simplesmente porque houve desvalorização por conta da especulação do capital? Pune-se o todo e não a parte.

Que a prisão do Lula é questionável, isso não temos dúvida, mas apostar numa candidatura que coloca uma nação em cheque, é cometer o mesmo erro que se comete ao criminalizar o todo quando um é corrupto.

Ao mesmo tempo, tivemos candidaturas de peso contra o fascismo crescente do Bolsonaro. E essas não são candidaturas historicamente alinhadas à esquerda, mas ao centro e, pasme, à direita. Vera Lúcia, com o nanico PSTU, combateu o PSL; Marina, com a Rede; Ciro Gomes, um dos maiores críticos à candidatura petista, combateu firme o fascismo; até o Alckmin, do antes grande e agora nanico PSDB, de direita, combateu o fascismo do Bolsonaro. Guilherme Boulos e todas e todos candidatas e candidatos do PSOL, com muita esperança, mais uma vez mostraram que a esquerda é bonita e pode trazer ainda muita coisa boa pro nosso povo. Sem contar os atos das mulheres contra o fascismo de Bolsonaro espalhados pelo Brasil e Mundo. Se o fascismo estava construído na figura de uma pessoa, muitos partidos e milhares de pessoas bateram de frente a esse obscurantismo.

De um lado temos o PT criticando a lava jato, a mídia e o judiciário por terem criado o fascismo. Do outro lado temos diversos partidos criticando o PT, seja nesse pleito ou historicamente, de criar o mesmo fascismo. Ainda há um terceiro lado que diz que a sociedade está dividida entre esquerda e direita. Eu gostaria de saber quando, qual pleito, qual momento da história do Brasil, nós não tivemos uma divisão social antagonista? Todos os pleitos após a redemocratização são marcados por uma cisão social. A dicotomia continua se analisarmos a ditadura, o período Vargas, a Velha República e o Brasil Império. Nossa história é marcada por exploração, desigualdade e divisão social.

Mas a culpa é de quem?

Vamos lá. Quantos eleitores autodeclarados bolsonaristas você tentou entender os reais motivos desse voto? Quantos houve uma dedicação etnográfica de entendimento desses eleitores partindo de nós? Quantos você convenceu a não votar no Bolsonaro? Ah, mas com fascismo não tem discussão? Como não, quando o fascista é a mesma pessoa que almoça com você no trabalho ou na reunião familiar?

Nós erramos e temos errado muito. O erro está na forma de falar, de convencer, de apresentar as propostas, de entender o eleitor, de entender seus medos. A esquerda não sabe conversar com o eleitor, a não ser que ele faça parte da sua bolha eleitoral. Me lembro de um dia, numa assembleia da faculdade, em que um aluno falava sobre a política de crédito do PT e em seguida uma senhora da faxina o corta: “Você fala isso porque não precisou comprar um tanquinho para lavar a roupa de 10 filhos”.

A culpa do fascismo é nossa por não conseguir combater uma corrente de whatsapp. Tá na hora de entender o eleitor pobre, negro e marginalizado que vota no Bolsonaro. Tá na hora de ter um discurso melhor, porque da forma que fazemos, o outro lado só cresce.

Desconfiança

A menina que não
Era legal
Porque
Era legal demais.

A paixão que não
Era intensa
Porque
Era intensa demais.

O carinho que não
Saia das mãos
Porque
Era carinho demais.

A vida que não
Foi vivida
Porque
Era dura demais.

Era morte demais
Porque
Não viveu
A vida que desconfiou.

Menina ondulada

O dia passou devagar
Demais para quem precisa
Chegar mais cedo
Pra poder pensar.

O caminho é curto
Demais pra acender o cigarro
Sentar
E te esperar.

A garrafa de cerveja é pequena
Demais para me
Aquietar
E olhar.

E você é desastrada
Demais para eu não
Sorrir
E me apaixonar.

Me encontro inteiro
Demais para não querer
Ver seus caracóis de novo
E te amar.